sábado, maio 13

Inventário de lugares - A estrada

Aqui, neste local difuso, tudo resta da vida, excepto a morte.
Salvar a vida. Sobreviver e respirar. Salvar a vida e deixar cá dentro coisas guardadas que outros, porventura, possam um dia vir a abrir e a fechar, enlevados por segundos, por segundos apenas, na ilusão breve que abençoa os que procuram.
Partir.
Fugir.
Caminhar, afinal, no mais rigoroso silêncio para longe de ti ausente, reiventado na escrita, em busca de ar, à procura de peso, à procura. Uma estrada longa e impossivelmente direita, ladeada por coisa nenhuma. Nada. Onde se tem somente uma vaga ideia de aves, uma noção timida de flores, uma esquecida sugestão de cor. Caminhar assim, no mais rigoroso silêncio em direcção oposta a outro que se quer, se deseja e se procura, devagar... hipnoticamente devagar.
DEVAGAR.



Fotografia: André Viegas

1 comentário:

disse...

Humm. Andas a escrever para algum guião Do Win Wenders? Tipo," Paris ,Texas" ?
è de facto muito profundo o que escreves, mas prevejo 1 bom FIMMMMMMMMMMMMM para tudo isso.....Beijo