domingo, novembro 25

louca louca




louca louca Sofia
caminhas nesse tormento de vida que te deixa rouca
sem acordar sem encaixar sem suplicar
caminhas para o mundo na ânsia de o viver
vais louca e serena
imprevisível vais decidida

passa Sofia passa
carregas os sonhos nos sacos que transportas
mas onde guardas a razão?
ondes escondes essa paixão
que te deixa moribunda?
doce doce Sofia
envolves-te na escuridão com que te cobres
afundas o corpo e a vontade
entregas-te ao abismo inteira
desafiando o destino e a morte

ora recordas ora esqueçes
na apatia dissonante
negligencias provocante
a dor que te arrefece

louca Sofia
louca louca


XannaX


loca - Concha Buik...



Fotografia: Thierry Le Gouès


4 comentários:

RC disse...

O Mundo de Sofia. :)

XannaX disse...

e que mundo, o da Sofia...

Unknown disse...

Gostei imenso do poema.
Fez-me regressar á minha infância, e a um dos poemas que mais recordo e aprecio, que aqui deixo em homenagem a António Gedeão.

Luisa, sobe que sobe!

Luísa sobe,

sobe a calçada,

sobe e não pode

que vai cansada.

Sobe, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe

sobe a calçada.

Saiu de casa

de madrugada;

regressa a casa

é já noite fechada.

Na mão grosseira,

de pele queimada,

leva a lancheira

desengonçada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.



Luísa é nova,

desenxovalhada,

tem perna gorda,

bem torneada.

Ferve-lhe o sangue

de afogueada;

saltam-lhe os peitos

na caminhada.

Anda, Luísa.

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.



Passam magalas,

rapaziada,

palpam-lhe as coxas

não dá por nada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.



Chegou a casa

não disse nada.

Pegou na filha,

deu-lhe a mamada;

bebeu a sopa

numa golada;

lavou a loiça,

varreu a escada;

deu jeito à casa

desarranjada;

coseu a roupa

já remendada;

despiu-se à pressa,

desinteressada;

caiu na cama

de uma assentada;

chegou o homem,

viu-a deitada;

serviu-se dela,

não deu por nada.

Anda, Luísa.

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

Na manhã débil,

sem alvorada,

salta da cama,

desembestada;

puxa da filha,

dá-lhe a mamada;

veste-se à pressa,

desengonçada;

anda, ciranda,

desaustinada;

range o soalho

a cada passada,

salta para a rua,

corre açodada,

galga o passeio,

desce o passeio,

desce a calçada,

chega à oficina

à hora marcada,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga;

toca a sineta

na hora aprazada,

corre à cantina,

volta à toada,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga.

Regressa a casa

é já noite fechada.

Luísa arqueja

pela calçada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada,

sobe que sobe,

sobe a calçada,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

António Gedeão

Rafael

XannaX disse...

Rafael
lembro-me deste poema do Gedeão e foi bom relembrá-lo aqui... lembro-me dele dito pelo Mário Viegas... fantástico! mas a Luisa e a Sofia são bem opostas nas suas percepções de vida e realidades...
Obrigado pelo poema (que sabe bem lido em voz alta e como uma lenga-lenga, ritmado, não é?)
obrigado pela visita
b
e
i
j
o
sedossssosssss