
Fica aqui perto. Da esquerda para a direita a imagem efémera, uma vida imóvel capotada para sempre num instante frágil de bonança e acalmia que amaina carinhosamente em nós, para nos vermos e tocarmos.
Fica aqui perto. Lê-se demorada e intima: é a figura de um amante. Banham os dez dedos das mãos quatrocentas mil sílabas e em tudo tocam, tudo querem saber, aqui, agora, sempre, agora, que o corpo se deixou encontrar, se deixou procurar, procura.
Não.
As noites nunca serão tão escuras enquanto os homens conseguirem esquecer tudo o que aprenderam, faltar a tudo o que prometeram, trair tudo em que acreditaram, só pelo primeiro cetim de um beijo, só pelo primeiro cetim de um beijo, nesse sabor doido de boca.
Depois, os amantes partem sempre, deixando sem vida tudo aquilo que amaram. Partem os dois. Em direcções opostas, partem sempre. E aquilo que fica, fica perto, dói e fere, não se separa ou atenua, adoece simplesmente ensinando a quem sente o prazer terrível da mágoa, a ininterrupta saudade do que nem sequer foi alegria – uma espécie, enfim, de amor. Numa espécie de corpo que ficou sozinho.
Fotografia: Sweetcharade
4 comentários:
Possuir é o fruto da paixão.
Amar é o fruto da vontade.
Quando a vontade é fraca, a paixão consome!
Quando a vontade é forte, cresce o amor!
A maioria prefere o mais fácil...deixar-se ir... ao sabor do olhar... sem vontade!
(Escreves bem, gostei de ler!)
A saudade que enlouquece,
cega e enternece...
também doi,
uma dor silênciosa,
doce e terna,
que acontece...
Deixo-te um beijo de ...
Magia
«vida imóvel capotada». Penso que terás querido dizer «vida imóvel captada».
Todos cometemos erros de imprensa e outros...
De resto gostei muito do teu post.
Um beijo
Luis
E as tuas mãos soltaram um grito calado, fundo....
Lindo poema,eu também acho que escreves bem.Bj
Enviar um comentário