sexta-feira, maio 26

Alma minha



























Trago sonhos usados e gastos à boca da alma, onde derramam e corroem sem jamais se perderem, sem jamais sangrarem, fechados nesta prisão tonta do corpo. Alguém os leve para outros, alguém os leve para outros – lugares, outros, homens, outros.
O transporte é certo de mão em mão quando eles se contam, os sonhos, quase sempre depois do sexo e da tarde, quando eles se cantam e, cantando, se encantam. Levá-los sem que me levem com eles; ficar, partindo com eles. Aqui e lá, dentro e fora, talvez.
Ficarei com a alma, não intacta, mas inteira, quase pronta para o que resta, preparada como se fosse nova, quase pronta, sorrindo para uma hipótese de ti como se a vida fosse continuar.
Ficarei com outra alma que não a minha. Ficarei com a tua.


Fotografia: Elton Melo (Olhares)

4 comentários:

Anónimo disse...

dá-me a tua alma eu dar-te-ei a minha
Lobo

Anónimo disse...

Gosto especialmente desta frase: Tenho sonhos usados e gastos à boca da alma.
correu-te bem.
Acho que todos nós os temos ...

Anónimo disse...

" sonhos fechados nesta prisão tonta do corpo....."
...
Porei um véu negro no meu rosto,e adormecerei e tão plácidamente,livre de todas as inquietações e sobressaltos, as unhas cravadas no vazio delicioso de já não ser eu a sonhar amanhãs.....

Vou lhe pedir permissão para incluir alguns dos seus poemas no meu blog, pode ser?

Anónimo disse...

Super color scheme, I like it! Good job. Go on.
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